O que há com Laura?
O caso Laura, de André Vianco, foca a vida de uma mulher frágil e destruída por um segredo do passado, que se agarra ao que sobrou de sua vida – muito pouco – e aos encontros com um misterioso homem chamado Miguel.
Classificação:
É certo que o texto de Vianco
supera muitas de nossas expectativas. É certo também que ele não consegue
guardar segredo. Bem, supondo que ele queira guardá-los, e que isso faria bem ao
leitor. Cada um entende de seus escritos, e os de Vianco, apesar de bons, não
servem para ocultar nada. De resto, o livro cumpre seu papel.
Laura
é uma mulher perturbada. Já tentou cometer suicídio mais de uma vez, e agora
trabalha restaurando arte com sua amiga Simone. Marcel é um detetive contratado
para investigar Laura. Alan é um policial que faz justiça com as próprias mãos.
Os acontecimentos que permeiam a existência de tais personagens tem um ponto em
comum. Esse ponto em comum é a filosofia do livro, que, em sua mensagem, nos
lembra Paulo Coelho, mas sem a falta de literatura deste. Só a mensagem mesmo. Nesse
ponto o livro é bonitinho.
Vianco
consegue tecer uma trama sem ser chato. Ele fala de seres humanos, com todos os
seus defeitos e problemas. E fala disso com humanidade, e com a palavra de quem
tem o que dizer. Esse é o forte do livro. Há palavrões, mas, como já escrevi em
outra crítica, ele não seria brasileiro se não fizesse isso.
O
caso Laura se desenrola com a naturalidade de uma história proseada, e com os
encantos de um romance bem pensado. A trama familiar ao redor da personagem e a
descrição de seu desespero nos soam com familiares, e instigantemente
verdadeiros. Vianco tem o dom de criar situações e personagens bem delineados,
sem exageros em descrições e uma boa interação com a história. Isso é o melhor
dele.
Agora,
o fato de ele sugerir a identidade de Miguel não incomoda, mas tira um pouco do
brilho. O final, por outro lado, é surpreendente. E bonito. Vianco parece tentar
mostrar que o liame que nos segura a esta vida pode se romper e se reconstituir
de formas inimagináveis para meros mortais. E que as coisas nem sempre são como
elas parecem ser. Mais uma vez um pouco de Paulo Coelho – pelo menos na magia,
ao passo que Vianco sabe criar uma trama de verdade e não somente um motivo
para dizer uma frase de incentivo.
Se
O caso Laura não agradar a alguém será apenas por não guardar segredo de nada,
ou não tentar guardar. Mas, se isso fizer parte dos planos do autor, então está
tudo certo. Laura pode ficar tranqüila, e nós também.
Aplausos para André Vianco.