terça-feira, 14 de agosto de 2012

O que há com Laura?

O caso Laura, de André Vianco, foca a vida de uma mulher frágil e destruída por um segredo do passado, que se agarra ao que sobrou de sua vida – muito pouco – e aos encontros com um misterioso homem chamado Miguel.

Classificação:







                  É certo que o texto de Vianco supera muitas de nossas expectativas. É certo também que ele não consegue guardar segredo. Bem, supondo que ele queira guardá-los, e que isso faria bem ao leitor. Cada um entende de seus escritos, e os de Vianco, apesar de bons, não servem para ocultar nada. De resto, o livro cumpre seu papel.
                Laura é uma mulher perturbada. Já tentou cometer suicídio mais de uma vez, e agora trabalha restaurando arte com sua amiga Simone. Marcel é um detetive contratado para investigar Laura. Alan é um policial que faz justiça com as próprias mãos. Os acontecimentos que permeiam a existência de tais personagens tem um ponto em comum. Esse ponto em comum é a filosofia do livro, que, em sua mensagem, nos lembra Paulo Coelho, mas sem a falta de literatura deste. Só a mensagem mesmo. Nesse ponto o livro é bonitinho.
                Vianco consegue tecer uma trama sem ser chato. Ele fala de seres humanos, com todos os seus defeitos e problemas. E fala disso com humanidade, e com a palavra de quem tem o que dizer. Esse é o forte do livro. Há palavrões, mas, como já escrevi em outra crítica, ele não seria brasileiro se não fizesse isso.
                O caso Laura se desenrola com a naturalidade de uma história proseada, e com os encantos de um romance bem pensado. A trama familiar ao redor da personagem e a descrição de seu desespero nos soam com familiares, e instigantemente verdadeiros. Vianco tem o dom de criar situações e personagens bem delineados, sem exageros em descrições e uma boa interação com a história. Isso é o melhor dele.
                Agora, o fato de ele sugerir a identidade de Miguel não incomoda, mas tira um pouco do brilho. O final, por outro lado, é surpreendente. E bonito. Vianco parece tentar mostrar que o liame que nos segura a esta vida pode se romper e se reconstituir de formas inimagináveis para meros mortais. E que as coisas nem sempre são como elas parecem ser. Mais uma vez um pouco de Paulo Coelho – pelo menos na magia, ao passo que Vianco sabe criar uma trama de verdade e não somente um motivo para dizer uma frase de incentivo.
                Se O caso Laura não agradar a alguém será apenas por não guardar segredo de nada, ou não tentar guardar. Mas, se isso fizer parte dos planos do autor, então está tudo certo. Laura pode ficar tranqüila, e nós também.
                Aplausos para André Vianco.


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